Aqui há tempos mostrei cá no blog uma foto de Alicante, com uma gloriosa instalação de chapéus de chuva (ou de sol?) ensombrando uma rua do centro da cidade. Pois bem, desta feita é 'nossa' Águeda quem se enche de vaidade e copia a iniciativa, conseguindo um resultado ainda mais encantador que o dos nossos vizinhos espanhóis.
Eu cá acho importante que as cidades portuguesas se encham de criatividade e dêem de facto o devido valor a este tipo de iniciativas. Poderá à partida fazer espécie a muita gente sobre o que a cidade ganha realmente com isto, já que proveito aparente só mesmo a sombra. Mas na verdade, uma iniciativa deste género trouxe a pequena cidade para as luzes da ribalta, veio publicitá-la e posicioná-la. Falando por mim, acho que faz anos que não ouvia falar de Águeda. É pouco provável que a cidade se vá encher de turistas de uma hora para a outra, por causa disto - mas alguns hão de aparecer, seguramente. E talvez gostem do que a cidade tem para oferecer, e talvez voltem. E talvez convidem amigos a lá ir com eles, ou talvez lhes indiquem o que visitar. Há essa possibilidade e probabilidade, por remota e escassa que possa ser. Sem os chapéus de sol, não haveria. No meio disto tudo, Águeda só ganha - ganha na economia local, ganha adeptos e simpatizantes, ganha notoriedade e constitui motivo de orgulho para quem lá vive.
Seria importante que os nossos 'energúmenos' - leia-se autarcas à Rui Rio - tivessem real noção do que uma iniciativa assim alavanca. Pois bem, é refresco... Aliás, muito poucos têm sequer noção do potencial que têm em mãos, quer em termos de turismo interno quer em termos de atracção de turistas estrangeiros. Há casos gritantes de sub-aproveitamento de recursos neste sentido, assim de repente lembro-me de duas cidades que me são queridas, casos de Braga e Viana do Castelo. Cidades vizinhas, cheias na herança cultural mas vazias na sua exploração. Desde ruínas enterradas a tradições negligenciadas e silenciadas, Braga é perita em abafar a cultura, em destruir a herança em vez de a mostrar ao mundo, quase como o miúdo invejoso que parte o brinquedo para que mais ninguém brinque com ele - mas isso seria ciúme, que implica amor, doçura que a autarquia não mostra ter pela antologia da cidade, não é bom exemplo. Entre uma Capital Europeia da Juventude esforçada (que reconheço ser) mas não talvez não acutilante e anteplaneada como merecia ser, e uma azáfama autárquica para preparar a debandada do autarca-mor, Braga está moribunda de rumo. De plano de marketing, de agenda estratégica. É o principal problema, não seguir um caminho constante... É inegável que Braga se mexe. Isto é, não adormece no tempo, há sempre algo a ser melhorado ou reconstruído - e dou o devido mérito. Mas não se mexe numa direcção específica, mexe-se ora para a direita, ora para trás, ora para a frente, sem rumo nem direcção. Não há um objectivo em torno do qual se una uma equipa em mesa redonda, não há uma linha orientadora - há uma gestão reactiva, em vez de proactiva.
Mas tomara fosse este um problema ao nível local. O problema é nacional, infelizmente. Parte de governos e ministérios corruptos e incompetentes para autarcas corruptos e incompetentes. É uma roda viva, um ciclo vicioso que só mudará quando se mudarem mentalidades. O que não vai ser fácil, a partir do momento que estamos a falar de um país que achou que mudar o nome do Algarve para All Garve lhe iria trazer benefícios no reconhecimento internacional e consequentemente 'charters' de britânicos.
Algo está mal neste país à beira-mar plantado. Estamos no ponto em que a Vila de Óbidos ou a cidade de Águeda conseguem chegar à frente e mostrar como se faz. E isso, amigos, diz muito sobre o conservadorismo que reina e sobre o quão ultrapassados e deslocados estão os autarcas nacionais.