segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Músicas da minha vida #2


#2. Bruce Springsteen - The River



Sendo uma das minhas favoritas entre todas as obras-primas do mestre Bruce, The River fala-nos sobre a história de um homem e do curso da sua vida, algures no interior americano. Fala-nos sobre como no interior as coisas se repetem geração após geração de forma idêntica, e conta-nos a história de alguém que como tantos outros vive uma vida lógica - nascer, aprender uma profissão, conhecer uma mulher, casar e ir vivendo.

Neste caso em específico, Bruce fala-nos de um rio, um rio que está ali, inerte, e que assiste a todo o percurso da sua vida - desde o tempo em que foi feliz, até aos dias presentes em que "por culpa da economia o trabalho escasseia", subentendendo-se que seja essa a origem do alegado afastamento entre o casal, que é agora retratado como distante de tudo aquilo que foram um dia - felizes junto àquele rio. Tenho neste cenário um deja vu, uma cena muito comum, particularmente entre gerações anteriores, casais que foram um dia muito felizes juntos e que por circunstância da vida acabaram por deixar apagar a chama que foi um dia tão cheia e vigorosa, vivendo vidas isoladas e mantendo apenas um casamento que era visto em outros tempos como uma cruz, um destino a carregar até ao resto da vida. 


A parte final da canção é cantada em jeito de auto-análise e retrospectiva, como que aquele momento da tua vida em que pões a mão na cabeça, olhas para trás, para o que imaginaste para ti e para o ponto em que estás, bastante diferente daquilo que imaginaste que seria a tua vida. Aquele ponto em que olhas para trás e tentas perceber que o que aconteceu ao homem que idealizavas ser, e quem o trocou pelo homem em quem te tornaste. Uma paragem em que todos passamos um dia, por uma ou outra razão, mais tarde ou mais cedo no curso da vida. 

E é neste ponto que o Boss introduz "Is a dream a lie if it don't come true?" - uma das suas mais fabulosas, enigmáticas e retóricas peças de escrita, na minha opinião. 

A guitarra acústica e a tão clássica harmónica de Springsteen dão à música um ar simples, humilde, em tom country, remetendo-nos para o cenário do interior americano em que é retratada a história. 




I come from down in the valley

Where mister, when you're young
They bring you up to do like your daddy done
Me and Mary we met in high school
When she was just seventeen
We'd drive out of this valley down to where the fields weregreen
We'd go down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we'd ride

Then I got Mary pregnant
And, man, that was all she wrote
And for my 19th birthday I got a union card and a wedding coat
We went down to the courthouse
And the judge put it all to rest
No wedding day smiles, no walk down the aisle
No flowers, no wedding dress

That night we went down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we did ride

I got a job working construction for the Johnstown Company
But lately there ain't been much work on account of the economy
Now all them things that seemed so important
Well mister they vanished right into the air
Now I just act like I don't remember
Mary acts like she don't care

But I remember us riding in my brother's car
Her body tan and wet down at the reservoir
At night on them banks I'd lie awake
And pull her close just to feel each breath she'd take
Now those memories come back to haunt me
They haunt me like a curse
Is a dream a lie if it don't come true
Or is it something worse,
that sends me
Down to the river
though I know the river is dry
That sends me down to the river tonight
Down to the river
My baby and I
Oh down to the river we ride

sábado, 10 de novembro de 2012

Músicas da minha vida #1

#1. Audioslave - Like a Stone



A abrir esta rubrica, que vai começar a figurar frequentemente cá no blog, escolho uma música bem conhecida, de uma superbanda que faz real jus ao termo, composta pelos músicos dos Rage Against the Machine e a voz dos Soundgarden, Chris Cornell. Que é basicamente como juntar o já muito bom que tem a Grécia com o melhor que tem Roma, passe a metáfora. 

"Like a Stone" fala-nos de retrospectiva, de arrependimento e redenção. Conta-nos a história na primeira pessoa de alguém que está "lendo um livro", fazendo uma retrospectiva sobre a sua vida passada - sobre o bem que trouxe, e o mal que deixa no mundo; os erros que cometeu e o que sente em relação a esses erros; e de como deseja subir "ao paraíso" na hora da sua morte. Não o paraíso da forma encantada que nos é prometido... Mas um paraíso mais seu, onde já esteve um dia e que parece agora tão distante. 

Na minha leitura esta canção é única, e o que transmite na lírica obriga-te a olhar à tua volta com outros olhos, faz-te pensar no quanto às vezes procuras obcecadamente por uma felicidade que pareces nunca atingir, quando por vezes estás a viver numa mesma felicidade que talvez um dia possas não ter. Talvez possas um dia tornar-te tu o velho, sentado na sua casa vazia de movimento e interesse, lendo o livro da sua vida e percebendo que errou demasiadas vezes, que nem sempre aproveitou a amizade, o amor e os pequenos prazeres da vida terrena da forma que o devia ter feito. 
Por outro lado, o riff de Morello é simplesmente apaixonante, pela sua simplicidade e pelo sentimento introspectivo e fatídico que transmite. A voz grunge de Cornell completa a música na sua forma impetuosa, viril e ainda assim sentimental, algo que só Cornell e mais alguns (poucos) artistas conseguem transmitir na impressão da voz sobre o instrumento.





On a cold, wet afternoon
In a room full of emptiness
By a freeway I confess
I was lost in the pages
Of a book full of death
Reading how we'll die alone
And if we're good, we'll lay to rest
Anywhere we want to go

[Chorus]
In your house I long to be
Room by room patiently
I'll wait for you there
Like a stone
I'll wait for you there
Alone


On my deathbed I will pray
To the gods and the angels
Like a pagan to anyone
Who will take me to heaven
To a place I recall
I was there so long ago
The sky was bruised
The wine was bled
And there you led me on

[Chorus]

Alone

And on I read
Until the day was gone
And I sat in regret
Of all the things I've done
For all that I've blessed
And all that I've wronged
In dreams until my death
I will wander on

[Chorus]

Alone