#2. Bruce Springsteen - The River
Sendo uma das minhas favoritas entre todas as obras-primas do mestre Bruce, The River fala-nos sobre a história de um homem e do curso da sua vida, algures no interior americano. Fala-nos sobre como no interior as coisas se repetem geração após geração de forma idêntica, e conta-nos a história de alguém que como tantos outros vive uma vida lógica - nascer, aprender uma profissão, conhecer uma mulher, casar e ir vivendo.
Neste caso em específico, Bruce fala-nos de um rio, um rio que está ali, inerte, e que assiste a todo o percurso da sua vida - desde o tempo em que foi feliz, até aos dias presentes em que "por culpa da economia o trabalho escasseia", subentendendo-se que seja essa a origem do alegado afastamento entre o casal, que é agora retratado como distante de tudo aquilo que foram um dia - felizes junto àquele rio. Tenho neste cenário um deja vu, uma cena muito comum, particularmente entre gerações anteriores, casais que foram um dia muito felizes juntos e que por circunstância da vida acabaram por deixar apagar a chama que foi um dia tão cheia e vigorosa, vivendo vidas isoladas e mantendo apenas um casamento que era visto em outros tempos como uma cruz, um destino a carregar até ao resto da vida.
A parte final da canção é cantada em jeito de auto-análise e retrospectiva, como que aquele momento da tua vida em que pões a mão na cabeça, olhas para trás, para o que imaginaste para ti e para o ponto em que estás, bastante diferente daquilo que imaginaste que seria a tua vida. Aquele ponto em que olhas para trás e tentas perceber que o que aconteceu ao homem que idealizavas ser, e quem o trocou pelo homem em quem te tornaste. Uma paragem em que todos passamos um dia, por uma ou outra razão, mais tarde ou mais cedo no curso da vida.
E é neste ponto que o Boss introduz "Is a dream a lie if it don't come true?" - uma das suas mais fabulosas, enigmáticas e retóricas peças de escrita, na minha opinião.
A guitarra acústica e a tão clássica harmónica de Springsteen dão à música um ar simples, humilde, em tom country, remetendo-nos para o cenário do interior americano em que é retratada a história.