domingo, 25 de julho de 2010

Do "Where" para o "Who"


Houveram tempos em que a qualidade era entendida em termos geográficos. Quando alguém via um "Made in China", automaticamente depreendia que o produto era de fraca qualidade; se por outro lado estivesse na etiqueta um "Made in Italy", o produto era aceite como de qualidade superior. Não que isto esteja completamente errado, mas o enhancement da noção de marca - bem como a criação de estilos de vida baseados nelas mesmas - vieram alterar um pouco este cenário.

Podemos, a título de exemplo, examinar um Apple iPhone. Esta peça de design e engenharia contemporâneos, tida por muitos como essencial num estilo de vida metropolitano, é exactamente produzida na China. A questão é: será que continuamos a ver este Made in China como sempre vimos o Made in China? Não, absolutamente não. Porque a avaliação deixa exactamente de ser focada no "Where" e passa completamente para o "Who". Sabemos que é uma peça Apple, confiamos nela porque é uma peça Apple. Que interessa onde é montada? Faria realmente alguma diferença que fosse montada em Itália ou na Alemanha?

Claro que não. Porque hoje não confiamos na geografia, confiamos na marcas. Vivemos na aldeia global, onde a noção de marca e consequentemente a noção de pertença e confiança quebra todas as barreiras sociais, geográficas e políticas para se centrar nas marcas em que confiamos. No pós-guerra americano, seria difícil ver um americano a conduzir algo que não fosse um Buick, um Chevy ou algo do género - desde que produzido na América. Hoje em dia, os americanos conduzem Mercedes, conduzem Toyota e mais! - renderam-se à fiabilidade de essas e outras marcas. Estamos na aldeia global onde os ingleses bebem Merlot e os alemães vestem Nike! O patriotismo perde vertiginosamente terreno para o lifestyle fornecido pelas marcas, e o argumento do orgulho nacional deixa de valer só porque sim.

PS: No que aos produtos nacionais e regionais diz respeito... É preciso defender o produto nacional - sempre - mas há que encaixar o conceito de marca. Há que trabalhar a marca em primeiro lugar, e depois sim, contar com a qualidade do produto per se como argumento de aprovação e consequente fidelização. Seduzir, conquistar, fidelizar. Seduzir... Conquistar... E fidelizar.

2 comentários:

Pulha Garcia disse...

A questão do made in China é que há que distingir quais os produtos desenhados e produzidos em território Chinês por empresas Chinesas, dos produtos concebidos por empresas estrangeiras (Apple, Mercedes, etc) mas cuja produção das peças e nalguns casos montagens (sempre segundo o controlo de qualidade de quem fez a "encomenda") na China por motivos económicos (baixo custo na mão-de-obra).

Ou seja sob o Made in China, podem vir produtos muito diferentes...

delarocha disse...

A questão é exactamente essa: hoje em dia pode vir o melhor produto da China e o pior produto do mundo pode ser feito na Alemanha! Essa distinção de que falas é exactamente feita pela nossa confiança e fidelidade à marca - vai ser nela que vamos confiar, não no país em si. Correcto?