E assim mais uma época termina, da mesma forma que temos vindo a ser habituados. Taça da Liga, campeonato para o norte, segundo lugar, e nada de títulos relevantes. Agora vem o Euro, as cenouras, e o benfiquista começa a empolar o seu entusiasmo com a próxima época. Nada de novo. ERRADO. Não podemos cair neste marasmo.
Falemos de Vieira. Presidente à antiga: persistente, dedicado, muita força mas pouco cérebro. Prometeu mundos e fundos - prometeu que com ele, o Benfica seria de novo o clube de mais sucesso em Portugal; prometeu que o Benfica não ganharia um título de longe a longe, mas consecutivamente; e prometeu que o Benfica seria uma potência europeia. Falhou, falhou e falhou. Vieira fez de facto um trabalho notável com a marca Benfica, conseguiu devolver o Benfica às lutas pelo poleiro e conseguiu que o nome Benfica fosse de novo respeitado interna e externamente. Dou-lhe todo o mérito e agradeço por isso, fique claro. Mas os objectivos a que se propôs não foram atingidos, portanto devia ser Vieira o primeiro a reconhecer que falhou e o primeiro a dirigir-se à porta de saída, porta essa que seria a grande se o fizesse agora, e de forma voluntária. Apenas poderá não reconhecer o quanto o Benfica mudou com LFV quem não viu o Benfica das operações coração e dos 6ºs lugares no campeonato.
Agora Jorge Jesus, o homem do presidente. O caso é gritantemente parecido. Só pode não aplaudir Jesus quem não viu o Benfica dos Quiques, dos Fernando Santos, dos Koemans e por aí adiante. Jesus chegou, prometeu que com ele o Benfica renderia o dobro, e no ano seguinte foi campeão de forma categórica - e com direito a "nota artística", como diria ele próprio. Esteve no topo, aplaudido em pé no estádio e enaltecido na imprensa. Bem... Na minha honesta opinião, este foi exactamente o ponto de viragem e o grande pecado de Jorge Jesus: não soube lidar com o sucesso; quando finalmente o atingiu julgou-se no topo, e julgou que uma vez que estava em cima do pedestal, seria para sempre. Na época passada, perdeu Ramires e achou que não precisava de um 8, mas sim de um extremo - sim, porque para a frente é que é bonito. Além disto, um guarda-redes de qualidade 'reconhecida' que a dupla maravilha (Vieira e Jesus) foi desencantar nesse colosso que é hoje o Atlético de Madrid, apenas e só pela pechincha de 8,5M€.
Nas primeiras 5 jornadas, o Benfica entregou de bandeja o título ao FCP de Villas Boas. E Jesus desculpou-se com tudo, desde o Mundial à falta de entrosamento. Pelo meio vimos Salvio, Coentrão, uma série interessante de vitórias e uma Champions de fazer corar o fantasma de Cosme Damião. Jesus estragou tudo, cometeu erros e foi vítima dos mesmos. Invariavelmente, as culpas morreram solteiras e o Terceiro Anel engoliu em seco três murros no estômago - os 5-0 no Dragão, a reviravolta da Taça e a conquista do campeonato pelo FCP em pleno Estádio da Luz. Os benfiquistas engoliram a custo, mas confiaram em Jesus.
Este ano, Jesus acordou empenhado em não cometer erros do passado: reforçou-se bem na frente de ataque, dispensou algum peso morto que ele mesmo tinha adquirido na época anterior, contratou Garay para cobrir David Luiz, e... E... Nada. Nas laterais, nada. Na direita, Maxi é rei e senhor. Como substitutos, Amorim e depois Witsel, ambos médios. Não sei o que pode eventualmente ser dito sobre isto, mas quanto a mim é absolutamente ridículo que uma equipa com o orçamento do Benfica não tenha um substituto que seja pelo menos rotinado com a posição. Choca-me, em boa verdade. Como me choca que um jogador com o calo e o traquejo de Capdevila seja preterido da lista da Champions, onde mais uma vez o lateral titular foi opção única - e que lateral, senhores. Por alguma razão que confesso me fugir ainda, Jorge Jesus achou que este brasileiro Emerson seria um jogador para se impôr numa equipa como o Benfica. Quando muito, Emerson tem qualidade para ser um substituto, nada mais. E Jesus insistiu cegamente nele durante a época inteira, assumindo manifestamente uma posição contra o coro do Terceiro Anel - nada a dizer, o treinador está lá para assumir posições e tomar decisões. Emerson foi um par e uma decisão de Jesus, e quanto a mim foi exactamente esta dupla quem nos custou o campeonato - por exemplo no jogo na Luz contra o FCP, com uma expulsão a que o mesmo JJ não conseguiu responder por não ter nenhum defesa no banco. Emerson, Saviola, Nolito, Miguel Vitor - todos eles foram erros crassos de Jorge Jesus, uns pela positiva e outros pela negativa. Jesus falhou, estatelou-se redondo no chão, e agora tem que assumir as suas culpas. Coisa que não fará, porque é demasiado orgulhoso, presunçoso e casmurro.
Com culpas assumidas ou não, devemos ter consciência que a fase de estes dois senhores chegou ao final. Independentemente de terem feito grandes coisas pelo Benfica. A Vieira reconheço-lhe o trabalho com a marca Benfica e o regresso aos grandes palcos. A Jesus, os bons momentos de futebol que proporcionou, o título que conquistou, e a potenciação de jogadores como Coentrão, David Luiz ou Di Maria. Mas ambos falharam redondamente nos seus propósitos, foram eficientes mas não eficazes. O Benfica vive de títulos, a nossa grandeza e história assim nos exige. E é exactamente isso que temos que almejar sempre. A ambos, um desejo honesto em forma de apelo: saiam por vosso próprio pé, saiam pela porta grande.
Apenas nós, os Benfiquistas, somos eternos. As fases e as épocas vão passando, as más e as boas, e nós continuaremos cá. De pedra e cal, incondicionalmente, com a fé de quem acredita numa religião. Connosco ficará para sempre apenas o nosso estádio, a nossa gente, o nosso símbolo e a nossa história. Os nossos Eusébio, Chalana, Rui Costa, Nuno Gomes, e todos os outros. E nós, iguais a eles. Benfiquistas até ao osso. Doa o que doer.