domingo, 23 de setembro de 2012

Hoje é domingo, não é?

Que parvoíce, claro que é domingo. Não só é domingo, como é também domingão! Ou seja, não é apenas o dia que está entre o sábado e a segunda-feira, é também o bom velho dia da t-shirt de dormir e do cu alapado no sofá com o pacote de bolachas em cima da mesinha, bem ali à mercê de saciar qualquer bichinho que teime em aparecer. 

O outono chegou, amgos. Chegou e trouxe-nos o bom velho domingão. O domingão em que chove lá fora, ninguém vai à praia, à piscina e nem tão pouco alguém ousa pôr um dedo fora de casa, quanto mais passar a tarde no corte-e-costura numa qualquer esplanada. Aliás, qualquer uma destas saídas me parecem agora de uma loucura extrema, algo que só faria num domingão se estivesse efectivamente, louco. Aliás, é neste ponto que o paradigma do chinelo evolui da havaiana para o chinelo de quarto, ou nos casos mais sérios, a pantufa. É neste ponto que esquecemos o calção e nos amigamos de novo dos saudosos jeans, abandonados, desprezados e inusáveis no Verão - a menos que tivesse mesmo que ser, ou que a noite estivesse fresquinha. Os ténis de pano, baixinhos e airosos, têm definitivamente que encarar a sua temporada de hibernação, por muito que lhes custe - "meus caros, foram bons tempos but it's time to say goodbye". Tem que ser tem que ser, e o tem que ser tem muita força. Venha de lá essa bota, essa Merrell ou coisa que o valha, don't bring knifes to a gunfight que isto está a ficar frio.

Mas calma, que isto está longe do fim. Porque ainda está para vir a derradeira troca, traição digna de qualquer vigarista de rua num policial americano dos anos 80. Este é o ponto em que trocamos a cerveja geladinha pelo tinto au naturel. Não que se abandone um ou outro durante o resto do ano, nada disso, também não somos nenhuns animais sem sentimentos. Mas é inegável que somos um bocado bígamos, vá lá. Vamos para um lado ou outro conforme nos dá jeito, procuramos numa as palavras amigas que outra não é capaz de nos dizer e encostamos a custo os companheiros de tantos dias e noites a uma prateleira fria, vazia e sem réstia de humanidade até simplesmente nos lembrarmos que existem e que podem bem assistir-nos naquela hora de fraqueza. Não se faz.

Podia começar agora mesmo uma manif em defesa das bebidas sazonalmente abandonadas. Também podia tentar começar um movimento nas redes sociais, mais isso faria de mim uma daquelas que pessoas que odeio, essas que passam o dia inteiro a partilhar frases tão lindas e tão cutchi-cutchi que até fariam chorar um olho de couve. Não me parece. Não me safaria lutando sozinho, parece-me. Não, definitivamente não me safaria. Portanto, talvez siga a velha máxima, que mais? Talvez continue então apenas a lamentar esta crueldade que nós, a espécie masculina, comete sem qualquer rasto de escrúpulos ou dignidade... Mas afinal me junte a eles, já que não posso vencê-los. Não me julguem, que posso eu fazer? 

E então é tempo do velho vino, companheiro de noites frias e cenários melodramáticos, repintados com o cinzento do outono e temperados com o molhado da chuva a bater no vidro desprotegido, enquanto cá dentro uma reunião informal de alguns dos maiores bandidos que esta rua já viu tem lugar junto ao lume, faca afiada e conversa em riste:

- Não pode ser... A sério, como é possível ser-se tão burro?
- Se achas que esta é boa, espera até ouvires o que fez aquele caralho no outro dia...
- Conta lá, estou mesmo a ver!
- Já conto. Deixa-me só encher-te o copo, não te quero ver com sede nesta casa...
- Então dá-me um cigarro dos teus que o meu maço acabou há pouco... O isqueiro?
- Está aqui. Bem, ia eu dizendo...

1 comentário:

S* disse...

Os domingões preguiçosos são os melhores de todos.