Não, este não é um texto sobre o 25 de Abril, nem sobre a forma como os nossos governantes nos estão a tirar a dita cuja. Também podia ser, mas hoje é Domingo, por amor de Deus... Deixemos essa conta para outro rosário.
Ontem tive o prazer de ouvir alguém falar sobre o conceito "lean thinking" (= pensar magro). Confesso que o conceito não me é completamente novo, nem tão pouco foi ontem que aprendi a gostar desta filosofia. De forma rápida, e explicando-como-se-fossem-todos-muito-burros (que evidentemente não são) este conceito argumenta que uma empresa deve ser magra, deve ser o menos comprometida possível quando não necessita de o ser - isto é, deve evitar ao máximo os custos fixos e os desperdícios, de forma a que consiga ser magra o suficiente para estar livre de "gorduras" inúteis; e deve ser ágil o suficiente para mudar o rumo dos acontecimentos num curto espaço de tempo se assim pretender ou for obrigada.
De qualquer forma, dei por mim no meu caminho de volta a pensar no quanto esta filosofia se aplica ou se poderia aplicar também a vidas pessoais. E no quanto os compromissos, ou pessoas, ou bens materiais nos tolhem os movimentos e nos amarram à cerca. Atire a primeira pedra quem nunca pensou "qualquer dia mando isto tudo para o caralho e vou-me embora". E insisto com outra retórica: quem nunca encontrou logo a seguir um grande, imponente "MAS" como obstáculo, nesse curto caminho?
Entre os muitos que vamos sendo, julgo que escasseia ou falta a pessoa que pode dar-se ao luxo de mudar de vida de hoje para amanhã. Porque todos têm um emprego que não pode "abandonar assim", ou um empréstimo de um carro do qual não se pode "desistir assim", ou uma casa que não podem "vender assim", ou simplesmente alguém que não podem largar "assim" nem de outra forma qualquer. No fundo estamos presos - presos a uma realidade virtual na qual entramos de livre espontânea vontade. A pura sensação de liberdade e livre-arbítrio que possamos de longe a longe eventualmente sentir não é senão uma utopia. Não nos vemos entrar e só reparamos quando já lá estamos; e o pior é que quase sempre não há breadcrumbs para nos levar de volta.
Haverá liberdade mais pura do que a dos "magros", os tais pobres que nada têm, do desimpedido, do que pode simplesmente ir porque lhe apetece ir, o fazer apenas porque quer fazer? Seremos realmente, e em termos lógicos, donos da nossa própria liberdade? Ou apenas cachorrinhos agarrados à cerca, com o mundo à vista mas fora de alcance?