domingo, 24 de junho de 2012

Coisas que se perdem no tempo



Há coisas que se perdem no tempo. O manjerico, aí está uma delas. Outrora, S. João era sinónimo de manjerico, toda a gente tinha um e quem porventura não tinha, queria comprar. Ao descer a Avenida da Liberdade (e aqui torna-se claro que estou a falar de Braga) já não se sente o cheiro fresco do manjerico nas banquinhas, e a festa fica um pouco mais pobre. Banquinhas essas que também já não são o que eram, são cada vez menos e vendem cada vez mais Vouis Luitton do que propriamente outra coisa qualquer. 

Mas nem tudo é mau. Com os anos, a juventude bracarense voltou a entusiasmar-se com o São João, muito graças à animação nas artérias que ligam à Av. da Liberdade. 'Antes não era nada disto' - dirão alguns - 'era correr para cima e para baixo, marteladas e alho pôrro'. Ainda é, ainda que já não com o mesmo entusiasmo de há 20 anos. Mas seja lá com que argumento for, é válido que se atraia a catraiada, é bom que não se deixem morrer as tradições. Pelo menos as boas. Afinal de contas já temos uma Câmara Municipal que assassina a nossa herança com uma brutalidade e indiferença que chocam, não precisamos de mais golpes no rico passado que temos a sorte de ter e a crueldade de enterrar. Gosto de acreditar, seja a nível de cidadania, profissional ou pessoal, que a nossa herança é o que nos leva, o que nos guia e o que nos caracteriza. Somos portugueses, os mesmos que ousamos conquistar os mares à procura do que havia a descobrir. Somos de Braga, a primeira cidade neste território a que chamamos agora Portugal. É importante que saibamos quem nos trouxe e como viemos, quase tão importante como colocar os olhos no futuro à procura dos mares ainda por conquistar. Temos que abrir horizontes, temos que nos internacionalizar e partir à conquista. Mas não podemos deixar de guardar, bem lá fundo no coração, quem somos e de onde vimos, o que fizemos e o que faremos. Quem nos trouxe e quem nos leva, de onde somos e para onde vamos. Podemos chegar à Lua ou a Marte, porque somos capazes. O que não podemos é esquecer-nos do fresco cheiro do manjerico, da sardinhada e das marteladas de S. João. Porque afinal de contas, é o que nos trouxe até aqui e é também o vento que nos levará a outras conquistas.

Sem comentários: