quinta-feira, 19 de abril de 2012

De Sarkozy e o 'caso Patek'

Place de la Concorde, Paris. Sarkozy discursa. De expressão honesta, balbucia mais 3 ou 4 tretas antes de terminar o discurso. Algo sobre heróis franceses, e a forma como a França se irá tornar uma referência em termos de taxação fiscal, e sobre solidariedade, e sobre cooperação com todos os países do mundo. Demagogia, em dose de cavalo. O público, esse delira. Sarkozy acena, sorridente! Decide descer e cumprimentar em mão o seu público. Um, dois, três, quatro cumprimentos, cinco, seis, e 'hey!, que merda é esta, foda-se!!' - diz para si o presidente, incrédulo! Alguém lhe puxou o relógio enquanto cumprimentava a multidão... No pulso, traz um Patek Philippe avaliado em 50 mil euros, ouro branco, oferecido por sua querida esposa Carla Bruni. Com cara de poucos amigos, Sarkozy tira discretamente o relógio e deposita-o no seu bolso direito.

E pronto, nisto cai-lhe o mundo em cima. Não na mesma hora, mas durante o dia de hoje, em que a televisão mostrou imagens reveladoras do acontecimento. Porque é uma atitude snob, e porque não confia na bondade das pessoas, e porque acha que é bom demais para expôr o seu relógio à raia miúda. Sempre dentro deste tom, uma torrente de críticas por essa web fora. Ora bem, portanto recapitulemos: o admissível, expectável ou até - já agora - exigível a Sarkozy seria que portanto continuasse a usar o seu relógio de colecção, com todo o respeito e confiança na multidão, só para o caso de mais um ou outro meliante lhe achar um piadão e conseguir, caso assim decida, levá-lo consigo para um passeio. Mas porque não? Afinal, no bolso dos outros qualquer um manda e comanda, não custa nada... Que mal traria ao mundo que o presidente francês ficasse sem um relógio de tal valor? Não ia doer a ninguém, certo? Então vamos lá armar-nos um bocadito ao pingarelho moralista e crente na humanidade, que fica sempre bem com a decoração.

É bizarra a forma como a imprensa e a opinião pública conseguem ser hipócritas quando vêm a mais pequena, ligeira e ínfima possibilidade de fazer sangue. Incrível. Quase, quase tão incrível como o Patek do Sr. Sarkozy. Quaaaaaaase.