segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Músicas da minha vida #2


#2. Bruce Springsteen - The River



Sendo uma das minhas favoritas entre todas as obras-primas do mestre Bruce, The River fala-nos sobre a história de um homem e do curso da sua vida, algures no interior americano. Fala-nos sobre como no interior as coisas se repetem geração após geração de forma idêntica, e conta-nos a história de alguém que como tantos outros vive uma vida lógica - nascer, aprender uma profissão, conhecer uma mulher, casar e ir vivendo.

Neste caso em específico, Bruce fala-nos de um rio, um rio que está ali, inerte, e que assiste a todo o percurso da sua vida - desde o tempo em que foi feliz, até aos dias presentes em que "por culpa da economia o trabalho escasseia", subentendendo-se que seja essa a origem do alegado afastamento entre o casal, que é agora retratado como distante de tudo aquilo que foram um dia - felizes junto àquele rio. Tenho neste cenário um deja vu, uma cena muito comum, particularmente entre gerações anteriores, casais que foram um dia muito felizes juntos e que por circunstância da vida acabaram por deixar apagar a chama que foi um dia tão cheia e vigorosa, vivendo vidas isoladas e mantendo apenas um casamento que era visto em outros tempos como uma cruz, um destino a carregar até ao resto da vida. 


A parte final da canção é cantada em jeito de auto-análise e retrospectiva, como que aquele momento da tua vida em que pões a mão na cabeça, olhas para trás, para o que imaginaste para ti e para o ponto em que estás, bastante diferente daquilo que imaginaste que seria a tua vida. Aquele ponto em que olhas para trás e tentas perceber que o que aconteceu ao homem que idealizavas ser, e quem o trocou pelo homem em quem te tornaste. Uma paragem em que todos passamos um dia, por uma ou outra razão, mais tarde ou mais cedo no curso da vida. 

E é neste ponto que o Boss introduz "Is a dream a lie if it don't come true?" - uma das suas mais fabulosas, enigmáticas e retóricas peças de escrita, na minha opinião. 

A guitarra acústica e a tão clássica harmónica de Springsteen dão à música um ar simples, humilde, em tom country, remetendo-nos para o cenário do interior americano em que é retratada a história. 




I come from down in the valley

Where mister, when you're young
They bring you up to do like your daddy done
Me and Mary we met in high school
When she was just seventeen
We'd drive out of this valley down to where the fields weregreen
We'd go down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we'd ride

Then I got Mary pregnant
And, man, that was all she wrote
And for my 19th birthday I got a union card and a wedding coat
We went down to the courthouse
And the judge put it all to rest
No wedding day smiles, no walk down the aisle
No flowers, no wedding dress

That night we went down to the river
And into the river we'd dive
Oh down to the river we did ride

I got a job working construction for the Johnstown Company
But lately there ain't been much work on account of the economy
Now all them things that seemed so important
Well mister they vanished right into the air
Now I just act like I don't remember
Mary acts like she don't care

But I remember us riding in my brother's car
Her body tan and wet down at the reservoir
At night on them banks I'd lie awake
And pull her close just to feel each breath she'd take
Now those memories come back to haunt me
They haunt me like a curse
Is a dream a lie if it don't come true
Or is it something worse,
that sends me
Down to the river
though I know the river is dry
That sends me down to the river tonight
Down to the river
My baby and I
Oh down to the river we ride

sábado, 10 de novembro de 2012

Músicas da minha vida #1

#1. Audioslave - Like a Stone



A abrir esta rubrica, que vai começar a figurar frequentemente cá no blog, escolho uma música bem conhecida, de uma superbanda que faz real jus ao termo, composta pelos músicos dos Rage Against the Machine e a voz dos Soundgarden, Chris Cornell. Que é basicamente como juntar o já muito bom que tem a Grécia com o melhor que tem Roma, passe a metáfora. 

"Like a Stone" fala-nos de retrospectiva, de arrependimento e redenção. Conta-nos a história na primeira pessoa de alguém que está "lendo um livro", fazendo uma retrospectiva sobre a sua vida passada - sobre o bem que trouxe, e o mal que deixa no mundo; os erros que cometeu e o que sente em relação a esses erros; e de como deseja subir "ao paraíso" na hora da sua morte. Não o paraíso da forma encantada que nos é prometido... Mas um paraíso mais seu, onde já esteve um dia e que parece agora tão distante. 

Na minha leitura esta canção é única, e o que transmite na lírica obriga-te a olhar à tua volta com outros olhos, faz-te pensar no quanto às vezes procuras obcecadamente por uma felicidade que pareces nunca atingir, quando por vezes estás a viver numa mesma felicidade que talvez um dia possas não ter. Talvez possas um dia tornar-te tu o velho, sentado na sua casa vazia de movimento e interesse, lendo o livro da sua vida e percebendo que errou demasiadas vezes, que nem sempre aproveitou a amizade, o amor e os pequenos prazeres da vida terrena da forma que o devia ter feito. 
Por outro lado, o riff de Morello é simplesmente apaixonante, pela sua simplicidade e pelo sentimento introspectivo e fatídico que transmite. A voz grunge de Cornell completa a música na sua forma impetuosa, viril e ainda assim sentimental, algo que só Cornell e mais alguns (poucos) artistas conseguem transmitir na impressão da voz sobre o instrumento.





On a cold, wet afternoon
In a room full of emptiness
By a freeway I confess
I was lost in the pages
Of a book full of death
Reading how we'll die alone
And if we're good, we'll lay to rest
Anywhere we want to go

[Chorus]
In your house I long to be
Room by room patiently
I'll wait for you there
Like a stone
I'll wait for you there
Alone


On my deathbed I will pray
To the gods and the angels
Like a pagan to anyone
Who will take me to heaven
To a place I recall
I was there so long ago
The sky was bruised
The wine was bled
And there you led me on

[Chorus]

Alone

And on I read
Until the day was gone
And I sat in regret
Of all the things I've done
For all that I've blessed
And all that I've wronged
In dreams until my death
I will wander on

[Chorus]

Alone

domingo, 28 de outubro de 2012

O simpático vigarista



Neal Caffrey é um vigarista e falsificador brilhante. Peter Burke é um detective, não menos brilhante. Ao contrário do que se possa tentar adivinhar, White Collar não se centra na boa velha história do polícia e do ladrão, da fuga e da investigação. Fala antes da história de um ladrão que a certo ponto atravessa a fronteira para o lado dos bons da fita.
A história de ambos cruza-se quando Caffrey é apanhado pelo primeiro e único homem que o conseguiu, Peter Burke. A cumprir pena na prisão, Caffrey recebe uma visita da sua namorada, Kate Moreau, que termina nesse dia a relação de ambos. Ficando com a impressão que algo não está totalmente explicado, Caffrey opera uma brilhante fuga da prisão a apenas quatro meses do término da sua sentença para procurar Kate, mas acaba de novo preso pelo mesmo Peter Burke que o prendeu pela primeira vez. Desta vez, Caffrey propõe a Peter que lhe dê liberdade condicional em troca de ajuda nas suas investigações na divisão de crimes de colarinho branco do FBI. Hesitante, Peter acaba por ceder à possibilidade de poder contar com a inteligência e conhecimento do prodigioso vigarista.
Além de um grande golpista, dono de uma inteligência assinalável e de uma perícia manual de um cirurgião, Neal é um homem das artes: Connaisseur e apaixonado da pintura renascentista, da arte das antigas civilizações, de boa música e bons livros, especializou-se na falsificação de obras de arte, mas também dinheiro e títulos financeiros, para além de todos os pedaços de papel de alguma forma possam valer dinheiro. Apreciador da alta roda e do luxo, e de tudo o que isso envolve, Caffrey é um homem de boa aparência e sorriso fácil, algo que de alguma forma lhe vale a simpatia de toda a gente com quem se cruza. Toda a gente, excepto Burke.
Ambos acabam por formar uma dupla que resulta numa série apaixonante, viciante, capaz de oferecer uma história diferente em cada episódio e simultaneamente uma história de fundo que vai decorrendo em longo-prazo, por entre a subtileza da interpretação de Matt Bomer e a riqueza de conteúdo da personagem do intelectual Mozzie, fiel companheiro de crime e melhor amigo de Caffrey.
Apesar de a certo ponto cair um pouco em monotonia, White Collar é uma série que oferece uma boa trama, alguma acção e puzzling mental, e alguns sempre deslumbrantes grandes planos da cidade de Nova Iorque. É no global uma série com um argumento interessante, que vive despretensiosamente em torno da personagem de Caffrey e da forma como este vai tentando decidir de qual dos lados da lei será afinal o seu lugar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Carlos "Cobain" Maciel




Quando alguém faz mudar a definição de músico de rua, para melhor. Não sei a história de vida deste senhor - provavelmente serei o único, mas tem que haver alguma coisa muito forte para não estar neste momento a voar de outra forma...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Unlock the 007 in you

Há projectos que só uma grande marca consegue levar avante, tal é o reconhecimento e ring-a-bell necessário para algo assim. Ou duas, neste caso: Coca-Cola e 007. 



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Que jeito me dava isto às vezes...



Criada por Michael Beitz, a "Avoid Conversation Table" foi criada com esse mesmo intuito, evitar conversas. De uma forma irónica, conceptual e prototípica - claro. Mas que dava jeito... Dava.

sábado, 29 de setembro de 2012

Hoje a Manif terminou com Janita Salomé!

Janita Salomé, cerveja, vinho e petiscos. Que mais senão uma autêntica festa, afinal sempre é fim-de-semana, pá.

O nosso problema também é este. Vamos para a rua, queremos fazer e acontecer, queremos mudar o rumo das coisas e tal, mas no fim somos todos amigos, está tudo resignado e lá regressamos à velha vidinha de não trocar o certo pelo duvidoso. A rotininha, que remédio.

Começa numa estrutura sindical completamente antiquada, sem ideias, sem a lufada de ar fresco que tão bem lhe fazia. A treta é a mesma de sempre, "os patrões" e os "cães grandes", todo um clima de nós vs eles. Nós - os bons, humildes trabalhadores que tão oprimidos somos - contra eles, os comilões sem mérito nenhum, os preguiçosos que comem tudo e não deixam nada. Saiu Carvalho da Silva, entrou Arménio Carlos, mas visto de longe ninguém diria sequer ter havido uma troca, quanto mais mudança. São iguais, farinha do mesmo saco. E no fim da manifestação, vamos todos beber cerveja e comer bifanas com os camaradas, pá!

Nunca revolução nem protesto nenhum será bem sucedido sem uma organização, uma liderança que garanta que todos se mexem no mesmo sentido. Alguém capaz de unir as tropas em torno de um objectivo comum. Alguém que consiga movimentar as massas para um ataque massivo direccionado para onde realmente interessa atacar, em vez de andar aqui a fazer festinhas no lombo ao inimigo. Enquanto houver PCPs e CGTPs a organizar protestos, manifs e outros que tais, nunca resultado nenhum será obtido em termos práticos. Porque eles são parte do sistema, podem até ser a parte que aparentemente representa o povo mas continuam a ser parte do sistema. E o sistema está podre, viciado e controlado. 
A haver uma verdadeira força mobilizadora, terá que ser alguém externo à esfera política, que não tenha interesse nem fatia de bolo a comer nas partes interessadas, porque estes pacóvios sindicalistas e comunistas andam cá simplesmente a cumprir calendário. E o povo olha tanto mas vê tão pouco, que não se apercebe que anda a correr em círculos há anos sem fim. Lutam, lutam, lutam para fazer cair o governo, aplaudem o novo governo para voltar a lutar para que eles caiam quatro anos depois. E volta a aplaudir o próximo, "este sim", que é nada mais que mais uma peça no tabuleiro a soldo dos grandes interesses. 

Posto isto, eu não creio que a solução passe por uma queda ou demissão do governo. Não vai resolver nada, vamos apenas queimar recursos e iniciar mais um ciclo de tretas, balelas e muito media entertainment para inglês ver. Mais circo, mais eleições, mais discursos sob coro de aplausos, mais capas do Correio da Manhã e mais slogans políticos, terminando tudo com a imperial subserviência aos grandes lobbys financeiros e corporativos. Não há volta a dar, porque o sistema político e mediático está viciado a tal ponto que se leva pessoas a votar num jotinha que acabou o curso com 36 anos e que nunca trabalhou a sério na puta da vida, acreditando que pode vir a ser a alternativa de que o país precisa. Mas andamos todos a brincar, amigos? Será que ninguém abre a pestana e vê que estamos a ser governados por marionetas? Será que ninguém vê que estamos a falar de pessoas cuja melhor (diria até única) qualidade é o domínio da hipocrisia e do discurso, orientados pela psicologia de multidões? Porque raio continuamos a protestar contra a Troika e contra a União Europeia, que respectivamente nos emprestam dinheiro mesmo sabendo que somos uns esbanjadores irresponsáveis e nos levam a reboque no comboio do desenvolvimento? Serão eles os culpados da nossa gritante falta de bom senso, do facto de termos construído uma casa começando pelo telhado? Serão eles os culpados de termos abandonado a agricultura e a pesca e nos tenhamos tornados dependentes das importações e consequentemente deixado de ser auto-suficientes? Ou serão eles os que continuam a levar-nos a rasto mesmo sabendo que somos peso morto?

Há que ter noção de contra quem nos temos que manifestar e qual o alvo a abater. Não é a troika, a Merkel ou qualquer outro elemento da UE. O alvo a abater é o nosso sistema político, que está completamente corrompido, que põe interesses pessoais, privados e corporativos à frente do bem estar do seu povo, da estabilidade financeira ou de qualquer desenvolvimento ou equilíbrio social dos indivíduos que são seus cidadãos. São os governos que continuam a acabar com os poucos recursos que temos, gastando onde mais lhes interessa, sem uma visão de médio-longo prazo debruçada sobre o emprego, o trabalho e a auto-suficiência que qualquer país precisa para ser financeiramente autónomo. Sim, tudo o que não temos. Se não temos, como podemos acreditar que uma saída da UE será realmente em algum ponto benéfica? Se não conseguirmos pagar ao FMI, como raio poderemos pagar a quem quer que seja se decidirmos sair da UE e não pagar a dívida? Não há forma de querer ser independente e auto-suficiente sem criar as bases para essa condição. Os nossos defeitos são estruturais, não circunstanciais. Quer fiquemos ou saiamos, quer paguemos ou não paguemos, o nosso sistema político encarregar-se-á de nos espremer sempre mais um bocadinho, sob o discurso fácil de a culpa ser do anterior governo, e que "é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente". Vamos continuar a acreditar que o crescimento chegará em 2013, em 2015, depois em 2018 e depois em 2020. Da mesma forma que andamos a acreditar nisto desde 2008. Pois bem amigos, não chegará. Pelo menos enquanto não conseguirmos mudar o paradigma da nossa política. Não enquanto continuarmos a votar nos do costume e a compactuar com a política da palmadinha nas costas que vemos no parlamento, não enquanto tivermos políticos com sentido de profissão e não com sentido de patriotismo. Não podem haver carreiras na política, deve sim haver serviço público por parte dos melhores profissionais deste país. Tal qual o serviço militar. Pôr as mentes brilhantes ao serviço da força trabalhadora dos menos brilhantes, mas não menos importantes. Como uma verdadeira equipa.

Mas é necessário ter-se a noção que isto não é uma mudança fácil ou rotineira, é preciso alterar um paradigma há muito estabelecido e só agora posto a nú porque está a faltar o dinheiro. Defeitos que não apareceram agora, mas que já existem há muitos anos e quase desde sempre. E que vão continuar, porque é demasiado ousado pensar que algum dos media possa dar tempo de antena a alguém que entenda e transmita isto, e como tal esta linha de pensamento nunca chegará aos ouvidos ou à compreensão do povão. Porque o povão come o que a SIC e a TVI querem que eles comam, entretêm-se como bebés com o colorido da propaganda política e com o barulho estridente do ciclo político, esse que começa e acaba com a mesma naturalidade para dar lugar ao próximo boneco de marioneta. A era dos media tem destas coisas. O povo não está mais inteligente nem mais culto que em 1974, está pelo contrário mais emburrecido, menos capaz de pensar. O povo é hoje um bando de vegetais, alimentados com o que os media lhe dão e querem que veja e oiça, e não com o que realmente quereria ou devia ver e ouvir. E como eu sei, tu sabes e ele sabe - porque nos ensinaram a saber - "se está na televisão é porque é verdade"...


Pelo menos para mim...

Sábado de manhã é para passar estendido ao comprido. Yap, haters gonna hate.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O primeiro QR Code em calçada portuguesa é um mimo



Isto é apenas uma amostra do que se pode fazer pelo turismo em Portugal: muito. Falta é criatividade e visão da parte dos ilustres autarcas, mas isso são outros quinhentos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dani Alves falou!

Daniel Alves, indivíduo conhecido pelo seu alargado intelecto e raciocínio peculiarmente desenvolvido, particularmente entre Mourinho e os seus pares, falou. Falou, e disse que o Barcelona e o Benfica têm um futebol igual, com a mesma filosofia de jogo e que entendem o futebol da mesma forma. Não fosse o tal mundialmente reconhecido intelecto do Dani Alves e ia achando que era um mind-game para pôr o Jesus com o ego nos píncaros, tendo presente que é manifestamente essa a melhor forma de se pôr o Catedrático a estender-se a todo o pano pelo chão fora completamente por sua conta. 

Mas tecnicamente falando - ou no aspecto técnico-táctico para quem fala Jesulês - o iluminado brasileiro tem a razão toda no que diz, de facto. Começando pelos respectivos meios-campos, onde de um lado se joga com 4 médios centro e do outro com 2, passando pelo facto de uma equipa jogar em ataque apoiado e sustentado, articulado com troca de bola em espaço curto, e a outra ainda estar para descobrir que também se pode jogar pelo meio e que há vida para além dos flancos. 

Tirando isso tudo, só vejo um argumento para que seja admissível ver o Barcelona pôr-se em bicos de pés tentando comparar-se ao Benfica. E mesmo assim, acho que o facto de terem o segundo melhor jogador do futebol actual e nós o melhor, e ambos serem argentinos, é muito poucochinho para bufarem assim. Mas pronto, vão falando...

domingo, 23 de setembro de 2012

Hoje é domingo, não é?

Que parvoíce, claro que é domingo. Não só é domingo, como é também domingão! Ou seja, não é apenas o dia que está entre o sábado e a segunda-feira, é também o bom velho dia da t-shirt de dormir e do cu alapado no sofá com o pacote de bolachas em cima da mesinha, bem ali à mercê de saciar qualquer bichinho que teime em aparecer. 

O outono chegou, amgos. Chegou e trouxe-nos o bom velho domingão. O domingão em que chove lá fora, ninguém vai à praia, à piscina e nem tão pouco alguém ousa pôr um dedo fora de casa, quanto mais passar a tarde no corte-e-costura numa qualquer esplanada. Aliás, qualquer uma destas saídas me parecem agora de uma loucura extrema, algo que só faria num domingão se estivesse efectivamente, louco. Aliás, é neste ponto que o paradigma do chinelo evolui da havaiana para o chinelo de quarto, ou nos casos mais sérios, a pantufa. É neste ponto que esquecemos o calção e nos amigamos de novo dos saudosos jeans, abandonados, desprezados e inusáveis no Verão - a menos que tivesse mesmo que ser, ou que a noite estivesse fresquinha. Os ténis de pano, baixinhos e airosos, têm definitivamente que encarar a sua temporada de hibernação, por muito que lhes custe - "meus caros, foram bons tempos but it's time to say goodbye". Tem que ser tem que ser, e o tem que ser tem muita força. Venha de lá essa bota, essa Merrell ou coisa que o valha, don't bring knifes to a gunfight que isto está a ficar frio.

Mas calma, que isto está longe do fim. Porque ainda está para vir a derradeira troca, traição digna de qualquer vigarista de rua num policial americano dos anos 80. Este é o ponto em que trocamos a cerveja geladinha pelo tinto au naturel. Não que se abandone um ou outro durante o resto do ano, nada disso, também não somos nenhuns animais sem sentimentos. Mas é inegável que somos um bocado bígamos, vá lá. Vamos para um lado ou outro conforme nos dá jeito, procuramos numa as palavras amigas que outra não é capaz de nos dizer e encostamos a custo os companheiros de tantos dias e noites a uma prateleira fria, vazia e sem réstia de humanidade até simplesmente nos lembrarmos que existem e que podem bem assistir-nos naquela hora de fraqueza. Não se faz.

Podia começar agora mesmo uma manif em defesa das bebidas sazonalmente abandonadas. Também podia tentar começar um movimento nas redes sociais, mais isso faria de mim uma daquelas que pessoas que odeio, essas que passam o dia inteiro a partilhar frases tão lindas e tão cutchi-cutchi que até fariam chorar um olho de couve. Não me parece. Não me safaria lutando sozinho, parece-me. Não, definitivamente não me safaria. Portanto, talvez siga a velha máxima, que mais? Talvez continue então apenas a lamentar esta crueldade que nós, a espécie masculina, comete sem qualquer rasto de escrúpulos ou dignidade... Mas afinal me junte a eles, já que não posso vencê-los. Não me julguem, que posso eu fazer? 

E então é tempo do velho vino, companheiro de noites frias e cenários melodramáticos, repintados com o cinzento do outono e temperados com o molhado da chuva a bater no vidro desprotegido, enquanto cá dentro uma reunião informal de alguns dos maiores bandidos que esta rua já viu tem lugar junto ao lume, faca afiada e conversa em riste:

- Não pode ser... A sério, como é possível ser-se tão burro?
- Se achas que esta é boa, espera até ouvires o que fez aquele caralho no outro dia...
- Conta lá, estou mesmo a ver!
- Já conto. Deixa-me só encher-te o copo, não te quero ver com sede nesta casa...
- Então dá-me um cigarro dos teus que o meu maço acabou há pouco... O isqueiro?
- Está aqui. Bem, ia eu dizendo...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Não sei bem...

Talvez seja velhice. Ou talvez falta de paciência. Ou talvez esteja a fritar a pipoca de vez, quem sabe?

De qualquer forma, no mínimo soaria estranho àquele rapagão - bonito - que deixei para trás há 6 anos, se lhe dissesse que viria por aí adiante um fim-de-semana em que ele se levantaria da manjedoura duas vezes (yap, sábado e domingo) à mesma hora em que se levanta durante a semana para trabalhar... Mas desta vez para ir andar de bicicleta. E sem sair à noite. E sem abusar do "social drinker" nem um bocadinho. 

Sinal dos tempos, sinal de insanidade, sinal de quê? Não sei. Que se foda. Hajam pernas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Momento musical de hoje

... versão Thiago Pethit e o seu talento do tamanho do mundo.



sábado, 1 de setembro de 2012

Uma Fábula Moderna: Vieira e os sapatos novos




Deixem-me contar-vos uma história. É a história de um senhor que precisava de um par de sapatos.

O Sr. Vieira era um homem grisalho, na casa dos seus 50. Tinha um trabalho importante numa empresa multi-nacional, comandava muita gente fazendo uso do seu jogo de cintura e da demagogia, que os pobres subordinados engoliam encolhendo os ombros.

Pela sua posição profissional e social, tinha absoluta necessidade de não cometer erros quanto à sua indumentária. É um mundo de dog-eat-dog, e facilitar era morrer. 

A certa altura, o Sr. Vieira (chamemos-lhe aleatoriamente assim) tinha uma reunião importante que lhe podia garantir uma promoção que procura há dois anos, sem sucesso. Precisava de uns sapatos, porque os dele não serviam e precisava mesmo de usar uns bons sapatos. 

A caminho da baixa, onde estava o comércio onde habitualmente comprava, lá ia o Sr. Vieira a pensar no tipo de sapatos a comprar. "Bem, no ano passado usei aqueles sapatos conservadores, não fiz grande figura. Óptimo era arranjar uns sapatos daqueles modernos, polivalentes, como os que tive há dois anos. Esses sim, grandes sapatos. Vai ter que ser isso, não estou a ver é onde vou arranjá-los", pensava com os seus botões.

Nisto passa em frente a uma lojinha pequena, de esquina e chama-lhe a atenção a montra. Vê um belo casaco - "que encanto!", diz para si. "Mas já tenho 6 casacos... Bem, os bons casacos nunca são demais, o inverno é longo e decerto haverão oportunidades para usar todos. Além disso o Alexandre disse que estava interessado naquele meu casaco, às tantas ainda lho vendo... Mais vale levar já este para prevenir, de qualquer forma". E pronto, lá trouxe o casaco. Dos 200 euros que levou, já só restavam 120. Mas tudo se haveria de compor, tinha que bater certo...! 

Duas ruas abaixo, o Sr. Vieira passa em frente a um novo espaço, sobre o qual tinha ouvido na rádio, um género de outlet que exibe um cartaz - "aceitamos a sua roupa usada". "Ora se não é mesmo isto que me dava jeito... Tenho de facto umas camisolas que não vou usar, e sempre aproveito para arranjar algum espaço no armário". Pagavam mal, mas bem, sempre são uns trocos. E elas lá estavam paradas de qualquer forma, portanto não está mal. E bem, foi assim que nessa tarde o Sr. Vieira se viu livre das camisolas a mais, ficando agora com as 4 camisolas de que precisa para passar o Inverno. "Perfeito", pensou para com os seus botões.

Continuando a sua rota, o Sr. Vieira passa pela loja do seu amigo Torres. Torres era um velho parceiro de negócios de Vieira, que estava agora à frente desta loja, muito antiga e com muitos recursos. Lá decide entrar para cumprimentar. 

- Olha quem ele é, então como estás amigo Vieira?
- Nada mal Torres, nada mal. Acabei de comprar agora este casaco...
- Epá, não está feio, não senhor. Mas sabes que esse padrão é um pouco avant-garde, não se vai usar já, já. Podias ter falado, eu arranjava-te aquele casaco que te emprestei há dois anos, não o uso e fazia-te um preço porreiro nisso. 
- Epá, realmente. Nem me lembrei disso, pôrra. Mas é de facto um casaco e pêras. Estás a pedir quanto por ele, mesmo?
- Por ser para ti, 120. Sabes bem que entre nós o preço é sempre jeitoso para o teu lado...

O Sr. Vieira engoliu em seco. De facto adorava aquele casaco, que usara durante um Inverno há dois anos e que tão bem lhe ficava. Mas 120 é precisamente o dinheiro que tinha para os sapatos. Merda!

- Não fazes um descontinho nisso, sequer?
- Vieira, sabes que não posso. 120 é bom preço.
- Que se foda, venha daí o casaco. Aqui tens os 120 euros. 
- Bom negócio, Vieira, bom negócio. É sempre um prazer, aqui tens.

Descendo a rua, o Sr. Vieira ia tão contente com os seus dois casacos novos como apreensivo quanto ao facto de não ter os sapatos que precisava. Merda, agora estava mais que bem servido de casacos mas ainda sem sapatos, e amanhã já tem que ir trabalhar. "Bem, só se passar em casa do Torres mais logo, a ver se ele me empresta aqueles sapatos que ele lá tem encostados, não são maus e vão dar para me desenrascar". E assim fez, voltou para casa e logo à noite passaria sem falta em casa do Torres.

- Triiing!! (campaínha)
- Olha o Vieira, então rapaz, como estás? 
- Torres, preciso de um favor teu. Epá, sabes que hoje te comprei aquele casaco, e daí nada a dizer. Mas agora fiquei com um problema, precisava que me emprestasses aqueles sapatos que aí tens e não usas, ia-me desenrascar para a reunião deste ano e logo se via. 
- Epá, oh Vieira... Sabes que não é má vontade, mas só te empresto os sapatos se me emprestares o teu casaco, aquele que usas sempre que faz chuva. 
- Oh Torres, mas preciso dele... Não dá mesmo. 
- Então esquece. 
- Ok, tu é que sabes. Até logo.

Voltando para casa, a cabeça do Sr. Vieira dava voltas e mais voltas. Onde raio ia agora desenrascar os sapatos a esta hora da noite, e amanhã já tinha que ir trabalhar. "Estou fodido", pensa.

Nisto toca o telemóvel. "O 'Árabe'? As estas horas? Que raio quer ele?" - 'O Árabe' era o ricaço da zona, quando queria alguma coisa nada o detinha até conseguir. "Não pode vir boa coisa", pensou o nosso amigo Sr. Vieira.

- ...Tou?
- Vieira? Era mesmo contigo, companheiro. Preciso que me vendas as tuas calças, hoje mesmo.
- Nem pensar, pá. Só tenho mesmo aquelas, ia ter que passar o inverno todo a remediar-me com calções e etc?
- Dou-te 200 euros.
- Epá... Ao menos os 300. 
- 200. E depois dou-te mais 30 euros se ela se mostrarem jeitosas.
- Ok, negócio fechado. 

Vieira pensou que aqueles 200 euros lhe dariam um jeitaço, afinal tinha acabado de gastar os seus 200 euros em casacos de que afinal nem precisava tanto e continuava sem sapatos. 

"Bem, vou só vestir-me muito rápido e vou ao shopping ali na baixa que ainda está aberto até à meia-noite", apressou-se a concluir. Eram 11 da noite e o Sr. Vieira tinha que a reunião já amanhã. Não tinha calças nem sapatos, não podia ir trabalhar sem eles, era a desgraça. Ao abrir o armário, no entanto, algo lhe salta à vista. Dá-se conta de que uma das camisolas que lhe tinham restado não era bem o que precisava, era amarela e difícil de combinar com outra peça de roupa qualquer. "Agora também não posso ir buscar de volta as outras!" - pensou, inquieto. Precisava de substituir aquela camisola também. E o tempo a passar, que raio!

Chegado ao shopping, Vieira vai direito à loja das camisolas. Repara numa camisola vermelha, que até nem é barata mas é de qualidade aceitável. Bem, pode ser.

- Vou levar esta camisola, por favor. 
- São 50 euros, senhor. 
- 50 euros? Mas não é da colecção passada? Vai ter que me fazer um desconto...
- Não posso, senhor. Não arranja uma parecida em lado nenhum, muito menos a esta hora.
- Então e se lhe deixar aqui esta, que já não uso? 
- Faço-lhe por 45 euros, então. 
- 45? Não pode ser, tem que baixar mais!
- Não adianta, senhor. São 23h55 e se quer a camisola tem que se despachar.
- SÃO O QUÊ?!
- 23h55, senhor. 

Vieira estremeceu. Não quis saber mais do negócio, deu os 45 euros e a camisola amarela e correu em direcção à loja das calças, já nem queria saber dos sapatos. 
Tarde demais. Tinha acabado de fechar, a tal loja. "Estou tão fodido", pensou.

E estava. O Sr. Vieira não podia vacilar, ele que procura ser promovido há dois anos, sem sucesso, em favor do seu arqui-inimigo, um vencedor nato, sempre organizado e imperdulário. O Sr. Pinto era de facto um profissional exemplar, e mais uma vez o Sr. Vieira ia ficar mal na fotografia ao lado dele. Amanhã lá estaria na reunião o Sr. Pinto, bem vestido da cabeça aos pés, preparado e à altura da ocasião. E o Sr. Vieira, bem, o Sr. Vieira estava completamente desgraçado. Ia-se tentar arrumar o melhor que consegue, mas acabou o dia com casacos a mais e bem servido de camisolas - mas sem umas únicas calças e nem um par de sapatos. Terá que usar calções e chinelos, à chuva e ao frio. Havia que encarar, estava completamente na merda. E pensar que tudo o que precisava era de um par de sapatos... 


PS: Não há um final feliz. Mas o facto é que a história se baseia em factos reais, também eles de final  habitualmente algo infeliz...

sábado, 4 de agosto de 2012

Chapéus há poucos...



Aqui há tempos mostrei cá no blog uma foto de Alicante, com uma gloriosa instalação de chapéus de chuva (ou de sol?) ensombrando uma rua do centro da cidade. Pois bem, desta feita é 'nossa' Águeda quem se enche de vaidade e copia a iniciativa, conseguindo um resultado ainda mais encantador que o dos nossos vizinhos espanhóis. 

Eu cá acho importante que as cidades portuguesas se encham de criatividade e dêem de facto o devido valor a este tipo de iniciativas. Poderá à partida fazer espécie a muita gente sobre o que a cidade ganha realmente com isto, já que proveito aparente só mesmo a sombra. Mas na verdade, uma iniciativa deste género trouxe a pequena cidade para as luzes da ribalta, veio publicitá-la e posicioná-la. Falando por mim, acho que faz anos que não ouvia falar de Águeda. É pouco provável que a cidade se vá encher de turistas de uma hora para a outra, por causa disto - mas alguns hão de aparecer, seguramente. E talvez gostem do que a cidade tem para oferecer, e talvez voltem. E talvez convidem amigos a lá ir com eles, ou talvez lhes indiquem o que visitar. Há essa possibilidade e probabilidade, por remota e escassa que possa ser. Sem os chapéus de sol, não haveria. No meio disto tudo, Águeda só ganha - ganha na economia local, ganha adeptos e simpatizantes, ganha notoriedade e constitui motivo de orgulho para quem lá vive. 

Seria importante que os nossos 'energúmenos' - leia-se autarcas à Rui Rio - tivessem real noção do que uma iniciativa assim alavanca. Pois bem, é refresco... Aliás, muito poucos têm sequer noção do potencial que têm em mãos, quer em termos de turismo interno quer em termos de atracção de turistas estrangeiros. Há casos gritantes de sub-aproveitamento de recursos neste sentido, assim de repente lembro-me de duas cidades que me são queridas, casos de Braga e Viana do Castelo. Cidades vizinhas, cheias na herança cultural mas vazias na sua exploração. Desde ruínas enterradas a tradições negligenciadas e silenciadas, Braga é perita em abafar a cultura, em destruir a herança em vez de a mostrar ao mundo, quase como o miúdo invejoso que parte o brinquedo para que mais ninguém brinque com ele - mas isso seria ciúme, que implica amor, doçura que a autarquia não mostra ter pela antologia da cidade, não é bom exemplo. Entre uma Capital Europeia da Juventude esforçada (que reconheço ser) mas não talvez não acutilante e anteplaneada como merecia ser, e uma azáfama autárquica para preparar a debandada do autarca-mor, Braga está moribunda de rumo. De plano de marketing, de agenda estratégica. É o principal problema, não seguir um caminho constante... É inegável que Braga se mexe. Isto é, não adormece no tempo, há sempre algo a ser melhorado ou reconstruído - e dou o devido mérito. Mas não se mexe numa direcção específica, mexe-se ora para a direita, ora para trás, ora para a frente, sem rumo nem direcção. Não há um objectivo em torno do qual se una uma equipa em mesa redonda, não há uma linha orientadora - há uma gestão reactiva, em vez de proactiva.

Mas tomara fosse este um problema ao nível local. O problema é nacional, infelizmente. Parte de governos e ministérios corruptos e incompetentes para autarcas corruptos e incompetentes. É uma roda viva, um ciclo vicioso que só mudará quando se mudarem mentalidades. O que não vai ser fácil, a partir do momento que estamos a falar de um país que achou que mudar o nome do Algarve para All Garve lhe iria trazer benefícios no reconhecimento internacional e consequentemente 'charters' de britânicos.

Algo está mal neste país à beira-mar plantado. Estamos no ponto em que a Vila de Óbidos ou a cidade de Águeda conseguem chegar à frente e mostrar como se faz. E isso, amigos, diz muito sobre o conservadorismo que reina e sobre o quão ultrapassados e deslocados estão os autarcas nacionais.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Há os Giggs, e depois há os Saviolas...

Muito se fala da questão da idade num jogador de futebol. Quando um jogador ultrapassa a barreira dos 30 anos, está condenado ao asilo - é uma contagem decrescente de todos os olhos postos em cima do jogador, quase que desejando que finalmente arrume as botas. Mas felizmente, os grandes clubes e selecções mundiais têm vindo a resistir a esta tendência tão ibérica de encostar os jogadores com muitos anos nas pernas. Exemplos como Andrea Pirlo ou Buffon na Juventus e na selecção da Itália, Seedorf, Nesta, Zambrotta, Inzaghi no Milan ou de Scholes e Giggs no United mostram-nos que o futebol acaba quando tem que acabar, não há idade definida. No próprio Benfica, Saviola mostra-nos que não é necessário ser-se trintão para estar acabado para o futebol. A idade é uma variável importante, mas não é certamente a única a definir a longevidade de um jogador. Factores genéticos, sanitários ou de modo de vida muito terão a dizer neste campo também, afinal basta olharmos para Ryan Giggs do alto dos seus 38 anos e a forma como disse há pouco ter numa vida regrada o segredo para a sua longa carreira. E afirmo sem pejo que Giggs faz mais em campo com 38 anos do que Saviola com 29 anos, aliás toda a gente o vê. Isto mostra que depois há uma outra coisa que é também muito importante, a vontade, a motivação, o estado de espírito. Giggs tem, Saviola não tem. 

Há jogadores de quem não se pode esperar um ritmo sempre elevado, como tiveram quando há 5 ou 10 anos atrás. São mais experientes, contudo menos pujantes. Mas há momentos em que a experiência faz a diferença, e neste campo que o diga Inzaghi. E a paixão também faz, que o diga Scholes, regressado de uma carreira terminada para ajudar o meio-campo do United. Paixão pela nossa camisola é coisa que alguns jogadores vão tendo, mas se há coisa que o Benfica nos tem habituado é a não dar o devido valor a quem sua, sente e sofre o símbolo. Os realmente bons são os de fora, os que vêm da América do Sul e que fazem chantagem para se irem embora, ou os que chegam com a promessa de fazer do Benfica uma "ponte aérea" para um tubarão. Choca-me a forma como foi tratado o Nuno Gomes, como foi tratado o Petit, como foi tratado o Leo. Todos eles jogadores que deram tudo pela camisola, mas que de uma forma ou de outra acabaram escorraçados pelas portas fora. De que fibra queremos feita a nossa equipa afinal? Dos mercenários ou dos fiéis, que dão o que têm e não têm? Quem tem afinal o perfil para jogar no Benfica? 

Simão tem. O mesmo Simão que demonstrou a sua vontade de voltar à sua casa, a nossa casa, o Estádio da Luz. O mesmo Simão que é capaz de mostrar ao Nico Gaitán de que fibra é feito um Benfiquista, o mesmo Simão que é capaz de mostrar a esse argentino mandrião que não é só chutar e cruzar, é preciso suar, suar e lutar. Não haverá espaço no Benfica para um jogador experiente e que pode e quer dar o seu contributo? Haverá só espaço para os Saviolas e Gaitáns, que sentem tanto a camisola encarnada como eu sinto a do Boca Juniors?

Simão quer o Benfica, mas o Benfica não quer o Simão. É falso. Quem não quer o Simão é o Jorge Jesus, treinador do Benfica. Nós, a multidão que grita em silêncio, queremos o Simão, queremos o nosso pequeno capitão. Afinal de contas, não foi um velho e acabado Rui Costa que veio passear ainda a sua classe na Catedral com 34 anos? Não será o nosso melhor jogador um mágico com 32 primaveras nas pernas, escrupulosamente as mesmas que o pequeno Simão? Perguntem lá isto ao Jorge Jesus, se faz favor. 

Por mim, volta já. Que saudades tenho do pequeno Capitão a voar baixinho, rente à relva da Catedral...




domingo, 8 de julho de 2012

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Falta de política

Sim, é um post sobre política. Ou sobre a falta dela. 

No nosso caso, o que temos não é política, é falta dela. Porque se houvesse uma política coerente no ramo da Política, alegremente não teríamos mentecaptos ao leme do navio. Não haveriam Engenheiros ao Domingo, não haveriam licenciados-de-um-ano nem teríamos um Primeiro-Ministro que se licenciou aos 36 anos. Não que um canudo seja sinal de competência, mas como não há sinal dela de lado algum seria de esperar que pelo menos de um curriculum académico no mínimo coerente pudesse advir alguma esperança de que estas pessoas sabem realmente o que andam a fazer na casa das máquinas. O que notoriamente, reforço, não é o caso.


O caso de Relvas é gritante. Choca-me saber que estamos a falar de um tal génio que se inscreveu um dia num curso de Direito, onde obteve a brilhante distinção de fazer apenas uma cadeira durante o ano em que lá esteve, com a não menos brilhante classificação de 10 valores. Depois bem, decidiu que o Direito não seria bem a sua cena, e atira-se para uma licenciatura em História de onde saiu com o meritório aproveitamento de 0 (sim, zero) cadeiras concluídas. Pois, talvez Direito e História não sejam bem a cena dele - e que tal Ciências Políticas? Essa sim, a praia dele! De tal forma que acaba uma licenciatura de três anos em apenas um. Meus amigos, estão a gozar com a puta da minha cara não é? Um iluminado que não conseguiu mais do que fazer uma cadeira em dois cursos na prestigiada Universidade Livre chega a uma outra universidade e conclui um curso de 36 cadeiras em apenas um ano lectivo? Com equivalências resultantes "do seu vasto curriculum profissional". Mas quem? Um gajo que nunca fez nada na puta da vida senão andar a desfilar em associações, ordens e jotas? A sério, estamos mesmo neste ponto?

Estamos entregues a uma geração de jotinhas, uma geração que chega ao poder apoiada em degraus de favores e influências, degrau a degrau, até ao topo. Estamos perante uma total descredibilização da política, estamos a falar de controlo dos media e consequente controlo do Zé Povinho. Estamos a falar de uma geração de economistas de all-in e licenciados-às-três-pancadas que não têm o mínimo background fora da realidade política, passando a vida a reboque de jotas e maçonarias. Fantoches. Marionetes. Estamos entregues à bicharada. E como qualquer hiena que se preze, estas só largarão o osso quando não houver nem um pequeno vestígio de carne para rilhar.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sweet umbrella sky



Alicante, Espanha. Uma das imagens mais bonitas que vi nos últimos dias, meses, anos. Não sei porquê em especial, mas o que é que isso interessa em boa verdade?

terça-feira, 26 de junho de 2012

Super slow motion meets BMW




É. Quando a arte do slow motion encontra a beleza e a alma da Baviera, acontecem coisas assim. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

F*ck, that's the ugly truth


Pirlo, o Capitão sem braçadeira



Há momentos que ultrapassam isso mesmo, momentos que são mais que meros momentos. O penalty de Andrea Pirlo hoje, nos quartos-de-final contra a Inglaterra, foi mais que um momento bonito de futebol. A Itália estava em desvantagem, a Inglaterra confiante. Pirlo sabia que tinha que levantar o ânimo aos companheiros e enervar os ingleses, e que nada melhor que um Panenka para esse efeito. Ao marcar o penalty, Pirlo fez mais que um golo - mostrou que estava calmo, confiante, e que os italianos tinham razões para acreditar em si mesmos. É isto que faz um líder que sabe o que representa dentro do grupo de trabalho, assume riscos e mostra confiança no que está a fazer. Os ingleses enervaram-se, os italianos não voltaram a tremer e a Itália segue para as meias-finais. E o futebol ficou mais rico, porque os Pirlos e Buffons não se vêem todos os dias, mas de vez em quando aí estão para mostrar o que pode trazer para o campo um jogador de 33 ou 34 anos, esfregando-se na cara de todos os que teimam em medir o rendimento em função da idade. Pirlo saiu de Milão, fez um grande ano levando a Juve às costas e aparece no Euro como se fosse um jovem de 25 anos, a jogar e fazer jogar como só ele sabe. A movimentação e a ocupação de espaços é cada vez melhor, os passes continuam teleguiados. É sempre um prazer, Andrea. 

Forza Squadra!

domingo, 24 de junho de 2012

Coisas que se perdem no tempo



Há coisas que se perdem no tempo. O manjerico, aí está uma delas. Outrora, S. João era sinónimo de manjerico, toda a gente tinha um e quem porventura não tinha, queria comprar. Ao descer a Avenida da Liberdade (e aqui torna-se claro que estou a falar de Braga) já não se sente o cheiro fresco do manjerico nas banquinhas, e a festa fica um pouco mais pobre. Banquinhas essas que também já não são o que eram, são cada vez menos e vendem cada vez mais Vouis Luitton do que propriamente outra coisa qualquer. 

Mas nem tudo é mau. Com os anos, a juventude bracarense voltou a entusiasmar-se com o São João, muito graças à animação nas artérias que ligam à Av. da Liberdade. 'Antes não era nada disto' - dirão alguns - 'era correr para cima e para baixo, marteladas e alho pôrro'. Ainda é, ainda que já não com o mesmo entusiasmo de há 20 anos. Mas seja lá com que argumento for, é válido que se atraia a catraiada, é bom que não se deixem morrer as tradições. Pelo menos as boas. Afinal de contas já temos uma Câmara Municipal que assassina a nossa herança com uma brutalidade e indiferença que chocam, não precisamos de mais golpes no rico passado que temos a sorte de ter e a crueldade de enterrar. Gosto de acreditar, seja a nível de cidadania, profissional ou pessoal, que a nossa herança é o que nos leva, o que nos guia e o que nos caracteriza. Somos portugueses, os mesmos que ousamos conquistar os mares à procura do que havia a descobrir. Somos de Braga, a primeira cidade neste território a que chamamos agora Portugal. É importante que saibamos quem nos trouxe e como viemos, quase tão importante como colocar os olhos no futuro à procura dos mares ainda por conquistar. Temos que abrir horizontes, temos que nos internacionalizar e partir à conquista. Mas não podemos deixar de guardar, bem lá fundo no coração, quem somos e de onde vimos, o que fizemos e o que faremos. Quem nos trouxe e quem nos leva, de onde somos e para onde vamos. Podemos chegar à Lua ou a Marte, porque somos capazes. O que não podemos é esquecer-nos do fresco cheiro do manjerico, da sardinhada e das marteladas de S. João. Porque afinal de contas, é o que nos trouxe até aqui e é também o vento que nos levará a outras conquistas.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A sério

Esta gamelinha, este puxa-saco da UEFA enoja-me. Depois da Espanha, França e Inglaterra estão levadas ao colinho até aos 4os de final. Natural selection, versão futebol...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

E o fim da picada, quando é?



É agora meus caros, é agora. Agora, que a Nestlé acaba de lançar este exuberante Kit Kat Green Tea. A má notícia é que para já, só no Japão. Pois, são coisas da vida.

domingo, 10 de junho de 2012

Alemanha 1 x 0 Portugal: Análise ao onze

Rui Patrício - À altura. Boa defesa ao primeiro cabeceamento do Gomez, impossível replicar no segundo.

João Pereira - Bom jogo, a anular Podolski. O bombardeiro só lhe fugiu uma vez, no único erro grave que teve. De resto, nada a apontar senão a falta de centímetros no golo alemão...

Pepe - Jogo em cheio do sub-capitão. Imperial a defender, bom a lançar jogo e ainda teve a melhor oportunidade do encontro nos pés, que lhe viu ser negada pela barra com muito azar.

Bruno Alves - Grande jogo do gladiador, imperial no jogo aéreo mesmo quando os adversários se chamam Gomez e Muller, impressionante estampa física e jogo aéreo. Está em grande.

Fábio Coentrão - Melhor em campo. Defendeu, compensou, atacou, teve nos pés uma oportunidade que acabou interceptada e foi fundamentalmente o motor de arranque do nosso ataque. Acabou esgotado e com um amarelo, mas em grande.

Miguel Veloso - Acaba por fazer um bom jogo, mas nunca foi essa a dúvida. A questão não é a qualidade de Veloso, mas a forma como as suas características obrigam Moutinho e principalmente Meireles a ficarem a guardar-lhe as costas, perdendo-se a capacidade de posse de bola de ambos em terrenos mais adiantados, bem como a meia-distância de Meireles. A meu ver, não devia estar neste onze, não por falta de qualidade mas porque infelizmente desequilibra a equipa.

Moutinho - Jogo sofrido, muito massacrado, mas acabou sempre por levar a água ao moinho como se lhe pede. Tacticamente responsável, pena não poder aparecer mais à frente a promover a posse de bola como tão bem faz.

Meireles - Aquém do que sabe, mas acaba por fazer um jogo coerente. Entrou nervoso, acabou por se soltar mas teve que se manter em terrenos recuados a guardar as costas do meio-campo. É uma pena, porque sabe bem pisar terrenos mais próximos da área.

Nani - Acordou tarde, foi preciso entrar Varela a pisar os seus terrenos para o soltar da marcação de Lahm. Quando o fez, apareceu o melhor Portugal, que precisa de um Nani a 100% como não esteve ontem.

Ronaldo - Continua a saga Ronaldo. Tanto quer resolver que acaba por não resolver nada, e tornar-se individualista. Honestamente, dele só espero que resolva numa ou outra jogada individual, porque em termos de jogo de equipa está verdadeiramente ao lado do que se lhe pede... 

Postiga - Jogo ingrato para Postiga. Se há jogo onde o caxineiro pode tirar vantagem, ontem nunca seria um desses jogos, já que não tem estampa, não tem jogo aéreo, nem tão pouco o controlo de bola para jogar em cunha. Paulo Bento devia saber disso melhor que ninguém...

Nelson Oliveira - Entrou nervoso, o que é de todo compreensível. Acaba por se soltar e fazer um grande controlo de bola dentro da área e uma assistência soberba para Varela, que desperdiça a última oportunidade. Merece minutos.

Varela - Entrou bem no jogo, libertando Nani da marcação de Lahm e promovendo as trocas de bola rápidas. Acaba por falhar no lance crucial, mostrando que a calma e a classe não são exactamente o seu forte, ele que é um homem de trabalho e velocidade. Positivo, ainda assim.


(T) Paulo Bento - Muito grave a leitura do meio-campo. Acaba por lançar Veloso, o que desactiva o meio-campo português. Mal também a inclusão de Postiga. Acaba por ler bem o jogo, mas muito tarde. Devia ter lançado a irreverência de Quaresma perto do final. 




quinta-feira, 7 de junho de 2012

E se de repente... Os Black Lips tocassem em tua casa?




Aconteceu ontem à noite, os Black Lips entraram na noite portuense e acabaram numa casa na Rua Passos Manuel, a tocar para quem quis ouvir. Sem marcações, agentes, cachets ou técnicos de som e luz. Porque afinal...

"A música faz-me viver... Portanto se não estou a tocar, na verdade não estou a viver, não é?"

Soberbo.

sábado, 2 de junho de 2012

Quando um objecto se torna "in"...



...Todos querem um pedaço. Neste caso em específico, o (a meu ver) brilhante estilista Paul Smith quis o selim em específico. Honestamente o selim não é nada que se apresente e se fosse vendedor tinha vergonha de pedir a alguém os 190 euros que este custa, porque simplesmente não tem nada 'fora da caixa', valendo-se da assinatura como único argumento. 

Isto tudo para dizer que no fundo acho muita piada a este tipo de cruzamentos de mundos. Mas aprecio especialmente quando deste cruzamento vem realmente uma mais-valia, uma sinergia, o que não é o caso. Este selim é tão valioso como uma qualquer outra peça Paul Smith, apoiando-se no trend e no prestígio da marca e não traz nenhum contributo ao mundo. Da parte da Kashimax o contributo é apenas assumir a produção do selim. Isto quer dizer que nenhuma das marcas saiu da sua zona de conforto, no fundo, dedicaram-se apenas a diversificar. 

Veredicto: meh... Sim, é giro. Mas só se tiverem duas notas verdes a pesar-vos na carteira e uma bicicleta com pinta suficiente para que o selim pelo menos não destoe, ok?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mamã, onde fica Berlim? Longe filho, muito longe...

Parece que para além da corja (e do coiso) que temos a governar Portugal, a coisa melhora à medida que subimos na cadeia hierárquica. Estou plenamente convencido que quanto mais burro for o político, mais longe chegará na carreira. Eu nem sempre tive plena certeza desta teoria, mas agora sou capaz de o jurar a pés juntos... Senão vejam:




É o que há. Parafraseando o bom velho Felipão... E o burro sou eu?

sábado, 26 de maio de 2012

Os Ronaldos e os Quaresmas



Ronaldo irritado com Hélder Postiga


Cristiano Ronaldo irritou-se ontem com Hélder Postiga, durante o treino da selecção nacional, em Óbidos. A dada altura da sessão de trabalho, orientada por Paulo Bento no relvado da Praia d’El Rey, o jogador do Real irritou-se com Hélder Postiga, no habitual meiinho do início dos trabalhos. CR7 não gostou do que viu e chamou a atenção do avançado do Saragoça e chegou a levantar os braços, irritado.




Antes, Ronaldo também não gostou da forma pouco acutilante como os colegas estavam a encarar a sessão de trabalho. "Temos de nos mexer um bocadinho", desafiou, apelando aos colegas que dessem quinze toques na bola, sem ser interceptada por quem ficava no meio do círculo, durante o meiinho. Foram momentos de excepção numa sessão muito animada, onde predominou a boa disposição, como tem sido hábito desde a chegada da comitiva a Óbidos, na segunda-feira.
Fonte

Isto para o caso de haver desse lado alguém que continue sem perceber o sucesso do Ronaldo. A diferença entre os Postigas ou Quaresmas e o Ronaldo é esta - o trabalho e a determinação. Enquanto os primeiros encaram um estágio como umas férias antes de passear as chuteiras novas nos relvados ucranianos e polacos, há quem sue a camisola e dê o melhor de si mesmo após uma época para lá de desgastante. 
Afinal de contas e como já dizia o velho louco Einstein... "O sucesso é 99% transpiração e 1% de inspiração". No cabeça do Quaresma isto funciona... Exactamente ao contrário. Com os resultados que se vêem. Quaresma podia ter sido grande, maior que Ronaldo até. Quaresma tem o talento, tem o toque, tem a irreverência e tem o génio. Só não tem o carácter, infelizmente. Podia ter sido grande.